23.7.09

Covarde

Sentindo uma enorme falta daqueles olhos me olhando de forma única, virei mais uma das muitas doses de uísque daquela noite e me perdi nas luzes daquele lugar. Sujo, com pessoas sujas e que nem nunca saberiam se dali eu saísse e fosse morta, acho que ninguém sabia que estava ali de verdade. O garçom veio até mim mais uma vez e perguntou qual era a comemoração pra tantas doses. - E te interessa? E pra que quer saber? E você se importa? - Pensei comigo, mas apenas acenei com a cabeça como quem diz "foda-se o motivo". Isso afastou-o de imediato, apenas trouxe mais uma das que pedi e foi atender um idiota meio gordo e velho com uma loira rosada, que parecia ter saído de uma caixa de plástico, tendo no minimo metade da idade dele. Paguei a conta com uns vinte e poucos reais que tinha amassado no bolso de trás do jeans e fui procurar ele, foda-se, ele não podia me deixar esperando daquele jeito. Tentei ligar antes, mas o celular dele estava desligado - Pra que você tem essa merda se nunca tá ligado? - Sabia onde poderia encontrar ele, sabia que poderia estar com o novo amor dele, bonito, novinho, cheiroso, sem arranhões. Mas fui, sem medo de ser parada por policiais por dirigir com muitas doses de uísque na cabeça, sem medo de atropelar, bater, que seja, fui. Mal consegui estacionar o carro que diga-se de passagem nem meu era, e fui até ele, estava com alguns amigos, os de sempre, e com algumas mulheres na mesa, ele sozinho, mas acelerou meu coração ver aquelas vadiazinhas sem expressão perto dele.

- Angelo, eu quero falar com você.
- O que você tá fazendo aqui?
- Não importa, eu quero falar com você.

Todas as vadiazinhas e os amigos me olhando sem entender nada daquilo que estava acontecendo ali, até porque, educação passou longe de mim, nem oi, nem boa noite, nem nada, eu só queria dizer que o amava.

- Eu vim aqui, pra dizer que você é um filho da puta, que me deixou esperando de novo. - Essa é minha forma de dizer pra ele que o amava.
- Não te prometi nada...

E me destrocei em pedaços, e meu coração parecia que queria pular, ali, direto pra mão dele. Uma lágrima caiu, descontroladamente, manchando todo o meu rosto, e dizendo pra ele voltar pra mim.

- Esse não é o momento Sofia, muita coisa aconteceu e se voltarmos não vai ser a mesma coisa.
- Covarde. Não existe mais Sofia sozinha depois que existiu nós dois, porque não aceita isso?
- Você tá bêbada.
- Foda-se.
- Olha, eu vou te levar pra casa e...
- É agora ou não vai dar mais Angelo! Entende isso...
- Eu sinto muito...

Covarde, depois de tantas vezes dizendo que me amava estava abandonando o proprio sentimento por medo de errar. Fui embora sem olhar pra trás, chorei de todas as formas que pude, de gritar, de trancar os dentes, de me machucar. De doer. De doer fisicamente. Eu precisava dele, mas ele não precisava mais de mim...

2 comentários:

'rb disse...

Nuss, textinho bom.. Como muita coisa na vida, sem final feliz né?!

A parte boa dos devaneios, é ser controlador de todas as emoções.

parabéns xuh.

Lucille disse...

Nós, do clube das Sofias, choramos ao nos vermos nessas linhas. Foda-se!
Jamais existirei sozinha agora...